segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

REVISTA PALANQUE EM FOCO DISPONÍVEL PARA DOWNLOAD

Como se trata de um projeto acadêmico e a verba é curta para fazer mais cópias impressas, resolvemos criar o blog para publicar matérias que ficaram fora da revista, por falta de espaço, e também disponibilizar a primeira edição para download.
A matéria de capa, a qual tem maior destaque na revista, foi escolhida e desenvolvida a partir do conhecimento dos alunos em observar os modos e os conceitos do primeiro e segundo turno, considerado: “O dia do voto”.
Neste caso, a matéria mostra todas as mudanças ocorridas no dia mais importante da cidade de São Paulo. São plantões dos funcionários de energia, saneamento, escolas públicas e privadas, policiamento e hospitais. Além disso, há também o comércio, mostrando o que abre e o que fecha no dia das eleições. O principal foco de São Paulo é o trânsito e também o transporte público, o que reduz e o quanto de frota circulam neste dia. A matéria mostra dados em forma de infográfico, sobre a quantidade de eleitores que votam em São Paulo, quantas urnas foram utilizadas para as eleições 2008 e quantas pessoas trabalharam no dia do voto.
A revista conta também com notas simples, em formato de “Drops”, informando ao leitor dos pequenos e interessantes acontecimentos, charge e também um artigo feito pela jornalista Juliana Negri que apresentou em seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), uma biografia não-autorizada de José Dirceu. A investigação da vida do político petista trouxe uma série de contratempos para sua vida, e, por essa razão, desistiu de especializar-se em ciência política, mas ainda continua sendo sua principal paixão.
E os jovens nas eleições são lembrados para eles também lembrarem da sua importância nas eleições. Conversamos com a vereadora de SP Soninha Francine, 42, e com Patrícia Mara Magalhães Barbosa, de 23 anos, há três vice-presidente do diretório acadêmico da Universidade Mackenzie, para debatermos sobre o papel dos jovens na política brasileira.
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Faça download da REVISTA PALANQUE EM FOCO AQUI e depois de ler, volte aqui no blog para fazer comentários.
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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

SONINHA FRANCINE FALA SOBRE O PAPEL DOS JOVENS NAS ELEIÇÕES

Soninha Francine, 42, vereadora de São Paulo, no último dia 14 de novembro de 2008 , concedeu entrevista para a "Revista Palnaque em Foco", por telefone (em breve o Podcast estará disponível aqui no Blog), para sabermos sua opinião sobre a participação dos jovens nas eleições, se ela acha que perdeu as eleições para a Prefeitura de São Paulo por ser mais jovem do que os adversários e a diferença entre política tradicional e jovem. Ela também falou sobre a maneira que a imprensa cobriu as eleições, expressando total desaprovação. Confira:
Por que e quando resolveu se envolver com política?
SONINHA FRANCINE: Eu me interessei desde pequena, por influência da minha mãe – que apesar de não ser militante de partido algum – sempre falava muito de política. Desmentia as notícias dos jornais e televisão. E ela me conquistou assim. E eu também me interessava. Estudei em um colégio de freiras muito bom, muito critico, muito envolvido com questões sociais, econômicas, de justiça. Pra mim foi um ambiente super estimulante. Nem todo mundo do meu colégio e nem todos os meus irmãos se envolveram tanto ou gostavam tanto de política como eu ,mas pra mim funcionou. Muitas vezes na adolescência eu pensei em entrar para a política propriamente, mas acabei desistindo, pois era época de ditadura militar e as portas de entrada eram muito mais estreitas, muito fechadas. Ai eu pensei, posso ser militante de outras maneiras, percebi que não precisava ser política pra fazer política. Mas depois de algumas décadas de militância deste tipo, eu voltei a querer novamente a política, onde você tem muitos obstáculos, problemas, adversários e inimigos, mas onde você tem mais poder.
Como você vê o papel dos jovens nas eleições?
SONINHA FRANCINE: Olha, eu acho que os jovens costumam a levar a fama de serem os mais desinteressados do mundo, os mais apáticos, especialmente em contraste com os jovens dos anos 60, mas pra mim isso é injusto. Não vou nem discutir que dos anos 70, nem todos os jovens eram engajados. Era um segmento forte, claro, da juventude, dos estudantes, dos universitários, mas também existiam jovens apáticos, desinteressados, alienados ou conservadores, etc. Tem um pouco de mito nisso também “houve um tempo...”. E hoje em dia você tem várias outras formas de militância. Esse é um ponto, envolver todo mundo por uma mesma causa. Como foi na época da ditadura, todos se uniram a favor democracia. E a partir daí as muitas idéias diferentes voltaram a aparecer, ainda bem. Os jovens militam de várias maneiras, às vezes organizando um sarau de poesia num bar da periferia, e então estão discutindo o mundo, fazendo filosofia, pensando em si mesmos. Pode ser militante num projeto ligado a uma igreja ou entidade social. O que os jovens não querem saber muito é da política partidária, a política propriamente dita, mas não são só eles, este é um traço da população em geral.
Existe uma diferença entre a política jovem e a política tradicional?
SONINHA FRANCINE: Ahhh, tomara né! (risos) Não é só por ser jovem. Se você for pensar, esta geração que está no poder, era jovens nos anos 60. Lutou né. E então cadê aquela juventude. De muitas maneiras ela foi esquecida. Também não estou condenando toda aquela geração, mas hoje o desgosto que a gente tem com os políticos que a reconhecemos como mais antigos, tradicionais e conversadores, alguns deles estiveram na batalha da revolução, vinte, trinta, quarenta anos atrás. Então, a juventude não é garantia de mudança, mas ajuda, porque os jovens têm uma inquietação, um inconformismo, uma energia em geral maior do que aqueles mais velhos que já se conformam, se acomodam, e já aceitam as coisas com mais facilidade. Esse inconformismo é um motor de mudança. Tem gente que entra jovem na política, mas uma cópia do modelão do político antigo.
O que falta para os jovens se interessarem mais sobre política? Inclusive jovens com interesse em se candidatar?
SONINHA FRANCINE: Você olhar pra política hoje e ver um esporte que você não conhece, ver os caras pra um lado ou pro outro e não sabe o porquê. Isso é falta ou não é, foi ponto ou não foi. Se você sabe as regras, aprende a gostar, começa a entender quem é craque ou não. Quem ganhou ou quem perdeu, você se envolve. A política hoje é isso, um esporte desconhecido pela maior parte da população, inclusive os jovens. Você olha pra aquilo e não entende nada, não consegue identificar quem é o bom jogador e quem é o cara que só quer dar o carrinho, quem pratica antijogo. O primeiro ponto é esclarecer, que jogo é esse, quais são as regras, como é que identifica o bom ou o mal jogador. Quem tá ganhando ou perdendo. Não sabem que diabo é vereador, qual a diferença de vereador pra deputado, de Assembléia Legislativa pra Congresso Nacional, Senado, Câmara. As pessoas não sabem! Como é que elas irão se interessar pra acompanhar todo o treino, torcer por um lado. Para interessar as pessoas, precisam entender a política, as regras básicas, como funcionam, divisão entre os poderes, as três esferas. Depois precisam ser incentivadas a criticar. Isso aqui é vereador, isso aqui é deputado. E agora,como se avalia o bom ou o mal vereador? Você passa informações sobre determinada Câmara Municipal, qual agenda, o que farão, o que já foi feito. Aí com esse conhecimento básico as pessoas naturalmente irão se envolver, entender o significado disso, o que a vida delas tem a ver com o fato que foi votado 10 ou 100 projetos na sessão do plenário, isso é bom ou é ruim? Então, a informação é fundamental e hoje ela é muito pouca, distorcida, eventual, na grande maioria do tempo é notícia ruim. E tem que mostrar também os bons políticos, o lado positivo da política, pois isso também acontece aqui.
O que é preciso pra ser um bom político?
SONINHA FRANCINE: Primeiro a motivação correta. Você político, é um representante da população, vai tomar decisões que tem influencia na vida das pessoas. Não é você concordar em azucrinar a vida das pessoas para conseguir vitória da sua facção, do partido. “ah o governo tá tentando aprovar aqui um negócio, mas nós não vamos deixar” .. ai inventam um motivo pra não deixar, por exemplo, esse governo errou feio em tal ocasião, então de castigo não vamos aprovar neste projeto de lei. Ai fica uma briga oidiota , pra prejudicar o adversário. O bom político pra começar não pode esquecer o motivo, pois é pra produzir transformações pelo bem da sociedade. Não pelo bem do partido ou grupo político. Segundo Tem que ter instrumentos pra isso, reconhecer o que você não sabe. O político pode ser super bem intencionado, mas É impossível ele saber tudo transporte, urbanismo, etc, ele tem que se cercar de pessoas competentes. Ele tem que ter a honestidade de ir atrás do que ele não sabe, às vezes consultar um super técnico, mas também ouvir o motorista e o cobrador ou passageiros. Então, essa disposição de respeitar posições diferentes pra ser leal, isso é fundamental. O resto, saber regimento da câmara, ter mais conhecimento, vem com o tempo.
Você acha que ser mais jovem do que os outros candidatos nas eleições para prefeitura de São Paulo, te prejudicou?
SONINHA FRANCINE: Olha, para algumas pessoas certamente prejudica. Homens e mulheres que me cumprimentavam disseram “nossa parabéns, você é ótima, suas idéias são bárbaras, você é ótima, não desiste tá, eu não votei em você, mas eu gostei muito e minha filha votou em você”. Tem gente que fala ,” imagina essa daí”. Alguns nem dão chance de ouvir. Pra outras pessoas, ao contrário, favorece. Mesmo sem ouvir o que eu estou dizendo, isso já é um erro, mas já vão pelo lado “ai tem coisa nova, é jovem, só de ser novidade já tá bom pra mim”. Também não pode ser assim, não adianta ter espírito jovem se eu não tiver conhecimento ou competência, e estiver completamente equivocada da minha visão da cidade e da política cheia de ideais, andando nas nuvens. Então, eu não posso dizer que só prejudica. Tá certo que muita gente nem me conhece ainda nas ruas. Mas também favorecem, porque as pessoas estão tão cansadas dos mesmos que querem algo novo e falam “é com esse que eu vou”.
Você acha que as pessoas preferem os políticos tradicionais? As suas propostas são "muito jovens" para São Paulo?
SONINHA FRANCINE: Então, nem tanto pelas propostas, pois as pessoas olham e dizem “puxa, interessante viu”. Mas acham que não sou capaz de colocar em prática. Estão super de saco cheio do que chama dos macacos velhos da política, mas dizem “pensando bem, pra estar lá tem que ser macaco velho, senão vai se ferrar”. Já vi no jornal até “ela é muito boa pra esse meio, está condenada a se ferrar, precisa ter algum grau de calhordice vai ser jantada pelos urubus”. Um pensamento fatalista. Ah política é os urubus, não entre lá, pois se você for muito boazinha vai se ferrar. Você não pode andar no mundo do algodão doce, tem que ter noção da realidade, mas não achar que a realidade tem que ter algum grau de calhordice. Mas é difícil mudar, pois as pessoas são muito apegadas ao que elas já conhecem. Têm medo de mudar, pegar alguma coisa completamente nova. !Ai meu Deus o que vai acontecer”. Sem pensar que cada dia é novo, mesmo o candidato velho, amanhã o dia é novo , é outro, você não pode ter certeza mesmo conhecendo a pessoa há 50 anos, pra saber o que ela vai fazer. São novas situações, problemas novos, soluções novas. Mas o que é familiar sempre parece mais confortável.
Agora falando como jornalista. Qual a sua opinião sobre a cobertura da imprensa nas eleições para prefeitura de SP?
SONINHA FRANCINE: Ah, eu acho tudo muito ruim. Por um lado tinha uma tara pelo equilíbrio na cobertura. Cada um com 30 segundos pra falar. SP TV gravou uma série de reportagens, que bom que fizeram isso, mas falavam “Soninha, qual a solução pra violência?” E tinha apenas 30 segundos pra responder , falar correndo é o jeito ou não dá conta de metade do assunto. Jornais pediam uma resposta em 1.300 caracteres igualzinhos pra todo mundo, até o final do dia às 18h. E depois ainda criticavam, dizendo nas matérias “nenhum candidato se aprofundou na discussão.” Meu, deram 1.300 caracteres de espaço, como pode alguém conseguir aprofundar um assunto? Não valia nada, pois os três grandes candidatos apareciam muito mais do que os outros, na hora de divulgarr agendas eram sempre comentadas a dos três, na hora de falar o que aconteceu com eles na rua. Tudo bem, na ohra de propostsa foi igual pra todo mundo. Mas a cobertura jornalística da campanha, a deles tinha muito mais cobertura do que as dos outros. Sempre tem uma superficialidade, de embarcar em algumas ondas. De não verificar a verdade que os candidatos falam , isso me deixa louca da vida. Ninguém apura, publica simplesmente uma mentira.
E muitas vezes também tem o interesse do veículo de comunicação, não acha?
SONINHA FRANCINE: Às vezes o interesse é do veículo e as vezes é do profissional. Tem um conflito aí muito sério, pois o certo seria nenhum dos dois interesses devem interferir na cobertura. Não é por que eu repórter tenho mais simpatia por um candidato, que vou fazer perguntas mais duras para o outro. Um editor escolher a pior foto e fazer o título mais sacana. Quando você assina uma coluna, você pode dar sua opinião, agora você distorcer os fatos em função contaminada pela sua opinião, isso é muito errado.
Isso também é um prejuízo pra população?
SONINHA FRANCINE: Claro, pois a maioria que lê no jornal fala “ah se tá no jornal, aconteceu”, costumam acreditar em tudo. Escrevem coisas distorcidas, falsas. Aí você passa a vida inteira sendo cobrada por algo que nunca falou , nunca imaginou, nunca fez. Dá uma raiva!!!
Entrevista concedida à Gisele Santos

[artigo] DILEMA ELEITORAL

A cobertura de eleições – municipais, estaduais ou federal – representa um dos momentos mais delicados para o jornalista e para o veículo de comunicação. A cada pleito, o dilema se renova. Enquanto alguns profissionais da imprensa não resistem às ofertas polpudas e abandonam a redação rumo às campanhas dos candidatos, aqueles que ficam encontram o desafio de desenvolver um trabalho imune a interesses políticos e partidários. Cada palavra mal colocada pode levar a interpretações distintas e a supor que o veículo tenha saído em defesa de determinada candidatura. Se a imparcialidade absoluta não existe, cabe ao jornalista o distanciamento crítico para realizar um retrato equilibrado dos fatos e garantir ao público a liberdade de expressão.
Claro que tudo isso é muito bonito na teoria. Mas, nos rincões do Brasil, a era da imprensa panfletária e partidária parece não ter acabado. Meios de comunicação pertencentes a grupos políticos são usados como instrumento de propaganda ideológica, a serviço de interesses particulares. Em anos anteriores, não faltaram casos de emissoras punidas pela Justiça Eleitoral por terem dado espaço maior a um candidato ou a representantes de suas idéias. No entanto, trata-se de uma prática difícil de ser combatida, já que, muitas vezes, a abordagem tendenciosa aparece de forma velada. Nestas eleições de 2008, imagine quantos veículos de comunicação dos mais de 5 mil municípios brasileiros não resistiram à tentação de valorizar os objetivos particulares de forças políticas, em detrimento do interesse público...
No âmbito dos grandes grupos midiáticos, esta situação fica menos evidente. É inegável que a atividade de produção jornalística atingiu um grau de profissionalização capaz de filtrar excessos da cobertura. Um exemplo positivo foi o da TV Cultura de São Paulo. Apesar de ser uma emissora pública, dependente das verbas do governo estadual, seus telejornais e demais programas jornalísticos não saíram em defesa do candidato Gilberto Kassab, apoiado pelo governador José Serra. Pelo contrário, o público teve acesso a um registro contrabalançado das eleições na maior cidade brasileira.
Outra iniciativa importante ficou por conta dos debates realizados pelas grandes cadeias de televisão, que não se restringiram às principais capitais. Muitas emissoras do interior – como as afiliadas das tevês Globo e Record - seguiram a iniciativa da cabeça-de-rede. Eventos como este, de evidente valor democrático, ajudam a garantir o equilíbrio do trabalho jornalístico.
Lá fora, o dilema da imparcialidade da cobertura também está presente. Nos Estados Unidos, a rede de televisão Fox News é o símbolo máximo de como um veículo usa o jornalismo a serviço de idéias unilaterais. Ao longo da disputa entre John McCain e Barack Obama, âncoras e repórteres do canal noticioso se mostraram favoráveis à vitória do republicano. Não fizeram o mínimo esforço para disfarçar suas crenças políticas. Quando a eleição do democrata foi confirmada, a rede conservadora teve que amargar a derrota. Ou seja: credibilidade zero para uma TV que transmitiu notícias contaminadas por interesses alheios.
O jornalista, como qualquer ser humano, tem a sua opinião e deve saber expressá-la. O veículo de comunicação, representado pelo grupo proprietário, também. Mas tudo no lugar e na hora exatos. Para isso, existem formatos adequados, como os artigos e editoriais. Todo órgão de imprensa tem a obrigação de não deixar seus objetivos particulares ofuscarem o interesse público. É a única maneira de enfrentar o dilema ético que sempre surge em época de eleições.
Rafael Castro, 24 anos, jornalista.