Soninha Francine, 42, vereadora de São Paulo, no último dia 14 de novembro de 2008 , concedeu entrevista para a "Revista Palnaque em Foco", por telefone (em breve o Podcast estará disponível aqui no Blog), para sabermos sua opinião sobre a participação dos jovens nas eleições, se ela acha que perdeu as eleições para a Prefeitura de São Paulo por ser mais jovem do que os adversários e a diferença entre política tradicional e jovem. Ela também falou sobre a maneira que a imprensa cobriu as eleições, expressando total desaprovação. Confira:
Por que e quando resolveu se envolver com política?
SONINHA FRANCINE: Eu me interessei desde pequena, por influência da minha mãe – que apesar de não ser militante de partido algum – sempre falava muito de política. Desmentia as notícias dos jornais e televisão. E ela me conquistou assim. E eu também me interessava. Estudei em um colégio de freiras muito bom, muito critico, muito envolvido com questões sociais, econômicas, de justiça. Pra mim foi um ambiente super estimulante. Nem todo mundo do meu colégio e nem todos os meus irmãos se envolveram tanto ou gostavam tanto de política como eu ,mas pra mim funcionou. Muitas vezes na adolescência eu pensei em entrar para a política propriamente, mas acabei desistindo, pois era época de ditadura militar e as portas de entrada eram muito mais estreitas, muito fechadas. Ai eu pensei, posso ser militante de outras maneiras, percebi que não precisava ser política pra fazer política. Mas depois de algumas décadas de militância deste tipo, eu voltei a querer novamente a política, onde você tem muitos obstáculos, problemas, adversários e inimigos, mas onde você tem mais poder.
Como você vê o papel dos jovens nas eleições?
SONINHA FRANCINE: Olha, eu acho que os jovens costumam a levar a fama de serem os mais desinteressados do mundo, os mais apáticos, especialmente em contraste com os jovens dos anos 60, mas pra mim isso é injusto. Não vou nem discutir que dos anos 70, nem todos os jovens eram engajados. Era um segmento forte, claro, da juventude, dos estudantes, dos universitários, mas também existiam jovens apáticos, desinteressados, alienados ou conservadores, etc. Tem um pouco de mito nisso também “houve um tempo...”. E hoje em dia você tem várias outras formas de militância. Esse é um ponto, envolver todo mundo por uma mesma causa. Como foi na época da ditadura, todos se uniram a favor democracia. E a partir daí as muitas idéias diferentes voltaram a aparecer, ainda bem. Os jovens militam de várias maneiras, às vezes organizando um sarau de poesia num bar da periferia, e então estão discutindo o mundo, fazendo filosofia, pensando em si mesmos. Pode ser militante num projeto ligado a uma igreja ou entidade social. O que os jovens não querem saber muito é da política partidária, a política propriamente dita, mas não são só eles, este é um traço da população em geral.
Existe uma diferença entre a política jovem e a política tradicional?
SONINHA FRANCINE: Ahhh, tomara né! (risos) Não é só por ser jovem. Se você for pensar, esta geração que está no poder, era jovens nos anos 60. Lutou né. E então cadê aquela juventude. De muitas maneiras ela foi esquecida. Também não estou condenando toda aquela geração, mas hoje o desgosto que a gente tem com os políticos que a reconhecemos como mais antigos, tradicionais e conversadores, alguns deles estiveram na batalha da revolução, vinte, trinta, quarenta anos atrás. Então, a juventude não é garantia de mudança, mas ajuda, porque os jovens têm uma inquietação, um inconformismo, uma energia em geral maior do que aqueles mais velhos que já se conformam, se acomodam, e já aceitam as coisas com mais facilidade. Esse inconformismo é um motor de mudança. Tem gente que entra jovem na política, mas uma cópia do modelão do político antigo.
O que falta para os jovens se interessarem mais sobre política? Inclusive jovens com interesse em se candidatar?
SONINHA FRANCINE: Você olhar pra política hoje e ver um esporte que você não conhece, ver os caras pra um lado ou pro outro e não sabe o porquê. Isso é falta ou não é, foi ponto ou não foi. Se você sabe as regras, aprende a gostar, começa a entender quem é craque ou não. Quem ganhou ou quem perdeu, você se envolve. A política hoje é isso, um esporte desconhecido pela maior parte da população, inclusive os jovens. Você olha pra aquilo e não entende nada, não consegue identificar quem é o bom jogador e quem é o cara que só quer dar o carrinho, quem pratica antijogo. O primeiro ponto é esclarecer, que jogo é esse, quais são as regras, como é que identifica o bom ou o mal jogador. Quem tá ganhando ou perdendo. Não sabem que diabo é vereador, qual a diferença de vereador pra deputado, de Assembléia Legislativa pra Congresso Nacional, Senado, Câmara. As pessoas não sabem! Como é que elas irão se interessar pra acompanhar todo o treino, torcer por um lado. Para interessar as pessoas, precisam entender a política, as regras básicas, como funcionam, divisão entre os poderes, as três esferas. Depois precisam ser incentivadas a criticar. Isso aqui é vereador, isso aqui é deputado. E agora,como se avalia o bom ou o mal vereador? Você passa informações sobre determinada Câmara Municipal, qual agenda, o que farão, o que já foi feito. Aí com esse conhecimento básico as pessoas naturalmente irão se envolver, entender o significado disso, o que a vida delas tem a ver com o fato que foi votado 10 ou 100 projetos na sessão do plenário, isso é bom ou é ruim? Então, a informação é fundamental e hoje ela é muito pouca, distorcida, eventual, na grande maioria do tempo é notícia ruim. E tem que mostrar também os bons políticos, o lado positivo da política, pois isso também acontece aqui.
O que é preciso pra ser um bom político?
SONINHA FRANCINE: Primeiro a motivação correta. Você político, é um representante da população, vai tomar decisões que tem influencia na vida das pessoas. Não é você concordar em azucrinar a vida das pessoas para conseguir vitória da sua facção, do partido. “ah o governo tá tentando aprovar aqui um negócio, mas nós não vamos deixar” .. ai inventam um motivo pra não deixar, por exemplo, esse governo errou feio em tal ocasião, então de castigo não vamos aprovar neste projeto de lei. Ai fica uma briga oidiota , pra prejudicar o adversário. O bom político pra começar não pode esquecer o motivo, pois é pra produzir transformações pelo bem da sociedade. Não pelo bem do partido ou grupo político. Segundo Tem que ter instrumentos pra isso, reconhecer o que você não sabe. O político pode ser super bem intencionado, mas É impossível ele saber tudo transporte, urbanismo, etc, ele tem que se cercar de pessoas competentes. Ele tem que ter a honestidade de ir atrás do que ele não sabe, às vezes consultar um super técnico, mas também ouvir o motorista e o cobrador ou passageiros. Então, essa disposição de respeitar posições diferentes pra ser leal, isso é fundamental. O resto, saber regimento da câmara, ter mais conhecimento, vem com o tempo.
Você acha que ser mais jovem do que os outros candidatos nas eleições para prefeitura de São Paulo, te prejudicou?
SONINHA FRANCINE: Olha, para algumas pessoas certamente prejudica. Homens e mulheres que me cumprimentavam disseram “nossa parabéns, você é ótima, suas idéias são bárbaras, você é ótima, não desiste tá, eu não votei em você, mas eu gostei muito e minha filha votou em você”. Tem gente que fala ,” imagina essa daí”. Alguns nem dão chance de ouvir. Pra outras pessoas, ao contrário, favorece. Mesmo sem ouvir o que eu estou dizendo, isso já é um erro, mas já vão pelo lado “ai tem coisa nova, é jovem, só de ser novidade já tá bom pra mim”. Também não pode ser assim, não adianta ter espírito jovem se eu não tiver conhecimento ou competência, e estiver completamente equivocada da minha visão da cidade e da política cheia de ideais, andando nas nuvens. Então, eu não posso dizer que só prejudica. Tá certo que muita gente nem me conhece ainda nas ruas. Mas também favorecem, porque as pessoas estão tão cansadas dos mesmos que querem algo novo e falam “é com esse que eu vou”.
Você acha que as pessoas preferem os políticos tradicionais? As suas propostas são "muito jovens" para São Paulo?
SONINHA FRANCINE: Então, nem tanto pelas propostas, pois as pessoas olham e dizem “puxa, interessante viu”. Mas acham que não sou capaz de colocar em prática. Estão super de saco cheio do que chama dos macacos velhos da política, mas dizem “pensando bem, pra estar lá tem que ser macaco velho, senão vai se ferrar”. Já vi no jornal até “ela é muito boa pra esse meio, está condenada a se ferrar, precisa ter algum grau de calhordice vai ser jantada pelos urubus”. Um pensamento fatalista. Ah política é os urubus, não entre lá, pois se você for muito boazinha vai se ferrar. Você não pode andar no mundo do algodão doce, tem que ter noção da realidade, mas não achar que a realidade tem que ter algum grau de calhordice. Mas é difícil mudar, pois as pessoas são muito apegadas ao que elas já conhecem. Têm medo de mudar, pegar alguma coisa completamente nova. !Ai meu Deus o que vai acontecer”. Sem pensar que cada dia é novo, mesmo o candidato velho, amanhã o dia é novo , é outro, você não pode ter certeza mesmo conhecendo a pessoa há 50 anos, pra saber o que ela vai fazer. São novas situações, problemas novos, soluções novas. Mas o que é familiar sempre parece mais confortável.
Agora falando como jornalista. Qual a sua opinião sobre a cobertura da imprensa nas eleições para prefeitura de SP?
SONINHA FRANCINE: Ah, eu acho tudo muito ruim. Por um lado tinha uma tara pelo equilíbrio na cobertura. Cada um com 30 segundos pra falar. SP TV gravou uma série de reportagens, que bom que fizeram isso, mas falavam “Soninha, qual a solução pra violência?” E tinha apenas 30 segundos pra responder , falar correndo é o jeito ou não dá conta de metade do assunto. Jornais pediam uma resposta em 1.300 caracteres igualzinhos pra todo mundo, até o final do dia às 18h. E depois ainda criticavam, dizendo nas matérias “nenhum candidato se aprofundou na discussão.” Meu, deram 1.300 caracteres de espaço, como pode alguém conseguir aprofundar um assunto? Não valia nada, pois os três grandes candidatos apareciam muito mais do que os outros, na hora de divulgarr agendas eram sempre comentadas a dos três, na hora de falar o que aconteceu com eles na rua. Tudo bem, na ohra de propostsa foi igual pra todo mundo. Mas a cobertura jornalística da campanha, a deles tinha muito mais cobertura do que as dos outros. Sempre tem uma superficialidade, de embarcar em algumas ondas. De não verificar a verdade que os candidatos falam , isso me deixa louca da vida. Ninguém apura, publica simplesmente uma mentira.
E muitas vezes também tem o interesse do veículo de comunicação, não acha?
SONINHA FRANCINE: Às vezes o interesse é do veículo e as vezes é do profissional. Tem um conflito aí muito sério, pois o certo seria nenhum dos dois interesses devem interferir na cobertura. Não é por que eu repórter tenho mais simpatia por um candidato, que vou fazer perguntas mais duras para o outro. Um editor escolher a pior foto e fazer o título mais sacana. Quando você assina uma coluna, você pode dar sua opinião, agora você distorcer os fatos em função contaminada pela sua opinião, isso é muito errado.
Isso também é um prejuízo pra população?
SONINHA FRANCINE: Claro, pois a maioria que lê no jornal fala “ah se tá no jornal, aconteceu”, costumam acreditar em tudo. Escrevem coisas distorcidas, falsas. Aí você passa a vida inteira sendo cobrada por algo que nunca falou , nunca imaginou, nunca fez. Dá uma raiva!!!
Entrevista concedida à Gisele Santos